Por
GRINGO
CARDIA
Com o conhecimento de quem trabalha ao lado de Deborah Colker desde os anos 1980 – na Intrépida Trupe, entre outros projetos – e que participa da companhia desde a sua fundação, o cenógrafo e diretor de arte Gringo Cardia aponta a importância de Cura para a coreógrafa:
– Ela era toda ciência. Passou por um crescimento espiritual. Foi conversar com Deus neste espetáculo.
Esse processo gerou, segundo ele, um espetáculo delicado e poético. Evita-se a lamentação e predomina a força. No seu trabalho, que considera o mais minimalista que já fez na companhia, duas rampas dão aos movimentos dos bailarinos a sensação de desequilíbrio. E caixas cumprem várias funções, como a de formar um muro.
O muro passa a imagem de um grande obstáculo, mas ele se divide em vários pedaços. Então, é possível atravessá-lo. É como a gente faz nas nossas vidas – diz.
Se em Cão Sem Plumas projetava-se um filme numa grande tela, agora aparecem apenas algumas palavras.
Não é uma projeção. É a força da palavra – afirma.
Ele considera impossível dissociar Cura do momento da pandemia.
A gente está vivendo uma cura gigantesca. O espetáculo também é a história do mundo hoje.
Gringo é um dos cenógrafos mais requisitados e premiados do Brasil, mas seu trabalho é múltiplo. Criou encartes e capas de CDs para artistas como Maria Bethânia e Chico Buarque, dirigiu mais de 70 videoclipes e concebeu cenários para exposições e óperas. Atuando também como curador, concluiu em 2021 o projeto do Museu de Música Brasileira, em Salvador.